Ontem o mal estar passou por aqui
organizou meu quarto inteiro e junto com a solidão
começaram a se dispir e eu finji que não tava aqui
e os dois zombaram da minha cara e não pararam de insistir
até que finalmente me fizeram sorrir
Ácido láctico no sangue não me deixa dormir
enquanto na gaiola morre de tédio seu colibri
eu jurava que dessa noite o velho escroto não passava
mas lá na calçada, amor e dor vão de mãos dadas
E eu contenho minha gargalhada
respiro e mantenho o sangue frio
um delírio cada vez mais febril
Nos bares de São Paulo a classe média planeja seu reveillon no Rio
eu sigo a pé mas tanto faz, essa hora da noite o busão já não para mais
descobri uma cárie no dente de trás
vou com os fones de ouvido
eu vou cantando sem filtro, não faço parte do seu circo mais triste do que entrevista de trabalho
Não conte comigo doutor, vinte e sete anos e o ódio aqui ainda não apaziguou
pelo contrário, aumentou
Paisagem cinza como a cidade que me complica
que trama todos os dias pra roubar minha auto estima
Vocês criaram um exército de imbecis
educados por American Pie e Arquivo X
e o cristão infeliz que critica os fiéis da outra metade
na minha mochila eu levo Nietzsche e o Marquês de Sade
porque na água benta de vocês eu sei, tem vômito de padre(Sai zica)
Sua ajuda chegou tarde, o medo me invade, extremo leste o sol arde
cuidado com o baque, o jogo não tem empate, tá na mão dos covarde
ele só quer que se pague, não aguenta não trague, sem vias de escape
Mais um litro de endorfina vendo a vida sem contraste
você quer que eu me encaixe, me persegue mas eu corro, vou pro morro
sem pedir socorro, velório é sempre um lugar de mau agouro
Eu sou pirata sem tesouro, pequeno tipo o Frodo, amargo tipo chá de boldo
humanidade dá preguiça e eu gosto do cinza (mas é claro) desde que não seja o da polícia
Vou lamber sangue na boca da fera, pra sujar toda essa atmosfera
meu nome é Gris tô pra lá de Itaquera, pra sorrir uma vez, mais quem dera.