1. |
Correria
03:38
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Correria
“Para que a escrita seja legível, é preciso exercitar a mão, e conhecer todos os caracteres.
Mas para começar a dizer alguma coisa que valha a pena, é preciso conhecer todos os sentidos desses os caracteres, e ter experimentado em si próprio todos esses sentidos,
é ter observado no mundo e no transmundo todos os resultados do que se experimentou.”
Gris,dois mil e foda-se
direto da cidade cinza
em algum bueiro perdido por aí.
ESCREVENDO COM SANGUE!
"Sobre a rotina incessante, sobre o trabalho
sobre tudo aquilo que a gente odeia
sobre todo esforço que a gente tem que fazer, pra poder fazer coisas que a gente detesta
sobre como viver nessa cidade ou em qualquer outra
qual é o melhor caminho a seguir?
não sei, o que serve pra mim de repente não serve pra você
enquanto eu penso, eu escrevo com sangue."
O trem carrega milhares de corpos pra outro turno
no furdunço dessa urbe que sempre esteve de luto
mais tamo junto, amassados com a cara no vidro
quem fica puto, aperta primeiro o gatilho
Fora do trilho, no corredor a milhão
fazendo as RD gritar, vacilão abre a porta
e agora os correria também tem que aprender a voar
Uma corrida sem destino, sem vencedor, sem prêmio de incentivo
fazendo o jogo de cartas marcadas ser cada vez mais instintivo
efeito retroativo, amarra o cão mas não abafa o seu latido
O momento é cada vez mais decisivo
a sentinela mosca e a gente aposta no estilo felino
é intrigante, a gente tenta sair a todo instante
no fim da linha respiração ofegante, muito mais adiante
depois que abaixa a espada
vermes rastejam no chão procurando diamante
Vertigem, fumaça e a hora não passa, o tédio constata
minha pilha fraca, os coxinha embaça e o céu desaba, carrego a carcaça bala fura a couraça
e bate o ponto, pontual como ampulheta
até o sol aqui parece que anda mais lento
Igual reforma agrária, agrada o coronel, cheio de ódio por dentro.
"desconfie, desconfie o tempo inteiro
desconfie de falsas lideranças, desconfie de verdades absolutas
e pense que sempre existe uma outra forma de se fazer as coisas,
uma outra forma de se relacionar, que merda seria se só existisse uma forma"
Madames arrogantes com pressa a caminho da clínica pra esticar a cara
em seu spa, destrata quem guarda seu carro
mas se sente melhor depois de outra xícara de chá com açúcar mascavo
Seres feitos de carne e sangue, igual eu e você
mas assim como tantos seres da espécie
se escondem de suas fraquezas dentro de outra prece
Ou seja,nossa anatomia similar não significa absolutamente porra nenhuma
Na boca sangue e saliva, São Paulo tem cheiro de tinta, entre outras coisas
também fede a corpos tocados com pinça
os mesmos corpos aonde o legista encontrou todas as suas balas perdidas
a hiena te convida, pra mergulhar nesse pântano sem saída
Aplaudindo feito focas amestradas, cinzeiro cheio, nem consegue subir a escada
rancor e depressão embalam essa jornada
família nuclear dentro do seu próprio jogo, sem mata, se mata, se mata.
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2. |
O bosque
04:17
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O bosque
"Dedicado a todos os bosques perdidos nessa cidade podre,
a todos os bosques que resistem e a todos aqueles que andaram com os pés sujos de barro
só quem é vai entender o que eu tô falando, quem não...paciência...”
Bem vindos a selva, ou pelo menos o que sobrou dela
meu melhor esconderijo em meio a guerra
com o suor na cara e meus pés sobre a terra
tranquilo em meio ao esquecimento
nesse bosque que há muito briga contra o cimento
Meu fiel aposento, fugindo do envenenamento
quem diria que depois de tanto tempo eu voltaria pra cá
pra ver o céu pintado de negro
me lembro de tantos momentos
Onde pouca coisa importava, completamente distraído correndo na mata
roubando banana e dando risada
ei dona Maria, empresta a mangueira pra gente tomar água
e quando a chuva caía, ah quanta alegria
Às vezes me perdia na imensidão dessa floresta, sem saber quanto tempo o encanto perduraria
livre e descalço sem me preocupar com o mormaço, arame farpado, limite que eu sempre ultrapasso
Minha imaginação voava pelo espaço
nessa época eu nem sabia o significado da palavra marasmo
e eu achava que existia uma bruxa naquela casa jamais penetrada
a gente se deliciava, ameixa, amora, morango,goiaba
tudo de graça ao som das vacas
E das madrugadas na calçada, muita história foi contada
sobre o padre fantasma, minha curiosidade sobre o bosque só aumentava
mas infelizmente nesse vale, não tem riacho mas tem piscina
como? eu não sei, só sei que lá eu nadei
no cipó me pendurei
sem pai nem mãe nem lei
Meu parque de diversões, quantos e quantos verões eu passei
cantando os mesmos refrões porque o verde ainda vive dentro de nossos corações
(ref)
Respira, respira e sente a brisa que amanhã a gente não sabe se o dia brilha
respira, respira e enche o pulmão de ar que fortalece a matilha
respira, respira que você evita de tomar aquele monte de pastilha
não vira, pra quem torce pro touro, essa é a melhor saída
No quintal da minha casa, compasso marcado pela enxada
pela periferia rodeada, posso sentir o cheiro aqui da minha sacada
o cemitério de índio como a lenda urbana dizia
toca das ratazanas e das macumba da vizinha
Animal planet aqui, nunca trouxe turista
o ser humano especista, em tranquilizar minha ira o verde é especialista
a trilha leva pra pista, estamos fora da lista
então despista o fascista que habita
Essa planíce de "istas" e "ismos", a máquina dispara identidade a esmo
que se agarrem a elas aqueles que ainda tentam definir a si mesmo
no sol ou no sereno, os insetos fertilizam o terreno
espero que não se extinga, levo uma folha de urtiga na minha língua
Tô aqui no veneno é comigo memo o bosque faz clarear
já passa de novembro, a falta de um bom tempo mas o bosque faz clarear
O bosque faz clarear.
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3. |
Ácido Láctico
03:33
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Acido láctico
Ontem o mal estar passou por aqui
organizou meu quarto inteiro e junto com a solidão
começaram a se dispir e eu finji que não tava aqui
e os dois zombaram da minha cara e não pararam de insistir
até que finalmente me fizeram sorrir
Ácido láctico no sangue não me deixa dormir
enquanto na gaiola morre de tédio seu colibri
eu jurava que dessa noite o velho escroto não passava
mas lá na calçada, amor e dor vão de mãos dadas
E eu contenho minha gargalhada
respiro e mantenho o sangue frio
um delírio cada vez mais febril
Nos bares de São Paulo a classe média planeja seu reveillon no Rio
eu sigo a pé mas tanto faz, essa hora da noite o busão já não para mais
descobri uma cárie no dente de trás
vou com os fones de ouvido
eu vou cantando sem filtro, não faço parte do seu circo mais triste do que entrevista de trabalho
Não conte comigo doutor, vinte e sete anos e o ódio aqui ainda não apaziguou
pelo contrário, aumentou
Paisagem cinza como a cidade que me complica
que trama todos os dias pra roubar minha auto estima
Vocês criaram um exército de imbecis
educados por American Pie e Arquivo X
e o cristão infeliz que critica os fiéis da outra metade
na minha mochila eu levo Nietzsche e o Marquês de Sade
porque na água benta de vocês eu sei, tem vômito de padre(Sai zica)
Sua ajuda chegou tarde, o medo me invade, extremo leste o sol arde
cuidado com o baque, o jogo não tem empate, tá na mão dos covarde
ele só quer que se pague, não aguenta não trague, sem vias de escape
Mais um litro de endorfina vendo a vida sem contraste
você quer que eu me encaixe, me persegue mas eu corro, vou pro morro
sem pedir socorro, velório é sempre um lugar de mau agouro
Eu sou pirata sem tesouro, pequeno tipo o Frodo, amargo tipo chá de boldo
humanidade dá preguiça e eu gosto do cinza (mas é claro) desde que não seja o da polícia
Vou lamber sangue na boca da fera, pra sujar toda essa atmosfera
meu nome é Gris tô pra lá de Itaquera, pra sorrir uma vez, mais quem dera.
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4. |
Desleal
02:50
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Desleal
Contrariando o estereótipo, raciocínio lógico
vale tudo, mas só não vale o Tim Maia homofóbico
verdade ou blefe, a cabeça no torniquete
a paciência dos bateras de soul
Domingão de manhã, uma lua da porra, é ruim de eu ouvir rock and roll
eu sei que vocês querem que eu ande na linha
que arrume um bom emprego e que forme família
mas eu nunca fui muito bom em seguir doutrinas
Por favor não deposite em mim, suas expectativas
sou um vagabundo na ativa
tipo o seu Madruga e o Jaiminho carteiro, eu vou evitando a fadiga
e você tem que ser mais criativo
varando as catraca pra correr atrás do prejuízo
A paciência dos batera de soul
não deposite em mim suas expectativas
pra correr atrás do prejuízo
e não se tornar inofensivo
Pulo do grilo, o verso sem vacilo
na quebrada sem dar milho, extremo leste é puro instinto
e eu ainda sigo, insisto, de negro eu me visto, quero matar a cristo
arrancar o cisto maligno, e destapar a artéria, fazer o meu corpo voltar pro velho ritmo
E pensa só, logo mais vocês vão estar casados e com filhos
fazendo isso pra que no final da vida, não te coloquem em um asilo
E eu vou passar correndo e vou te dar tchau
tô nem aí se você se sente mal
eu nunca precisei do seu aval
dia após dia, eu sou a ovelha desleal
A peça com defeito que desafia sua corja
até nunca mais trouxa, toma!
pra correr atrás do prejuízo
e não se tornar inofensivo
a paciência dos batera de soul
não deposite em mim suas expectativas.
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5. |
Interlúdio
01:16
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6. |
Controverso
03:48
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Controverso
Você que ta aí arrotando valentia
contando vantagem
vê se presta atenção e escuta
Na ponta da minha caneta existe a possibilidade
de arrancar esse sorriso cínico da sua cara
poesia suja que vem da vala
o rastilho de pólvora que vai marcando o seu caminho
me equilibrando no meio fio, pensando na próxima jogada
Autoridade nem me viu, sigo espalhando a minha praga
sou macaco com navalha, ei zé povinho, não atrapalha
agora é tudo ou nada, como se fosse a ultima valsa
Minha hostilidade não caduca, o verso violento
como se fosse a coronhada na sua nuca
não olhe nos olhos da medusa
apenas deixe que o som te conduza
E no meu suco de laranja não coloque mais açúcar
tá um frio da caraio e saí sem blusa
a minha lírica é confusa
porque a minha mente também é confusa
Gris, comanda o seu tormento
não adianta aumentar o volume se tu não têm argumento, chaparral
é só esperar a última pá de cal
Escreva com sangue e verás que sangue é espírito, assim falou certa vez um velho bigodudo e é nisso que eu confio
Eu não me preocupo em ser ou não original
eu tô cagando e andando pra sua moral
enquanto você se enforca com o nó da sua gravata
eu aqui, gravando com os programa pirata
E pode baixar lá de graça que isso pouco me importa
eu sou a cópia da cópia, sou copyleft na tora
sem deixar pistas no caminho, escrevendo e apagando a minha própria história
o intruso que te incomoda, como o câncer na sua próstata
ai de quem não zarpar, olho de carcará
Eu vou bufando nessa métrica, quase sempre hermética
a palavra intrépida, que fuzila os escravos da estética
um jogo de azar onde a casa sempre ganha
arrancando tudo que você tiver, desde a suas entranhas
E não adianta deixar em estéreo se o seu fone só toca de um lado
e não adianta ter os motor mais ferrado, porque aqui as ruas são de barro
"É preciso ter cuidado com aquilo que vocês desejam
porque mais dia, menos dia, isso pode se tornar realidade"
Em cada beco e viela ecoa o canto pra acabar com a cegueira
passa o tempo e eu ainda esquento a mão na mesma fogueira
que faz a gente não desistir, na subida da ladeira
avançando quadra a quadra, o som que eu vou ouvir bem depois da fronteira
ainda que você não queira, com a luz da lua cheia
Apenas mais do mesmo, nada que vocês nunca tenham visto antes.
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7. |
Pandemônio
04:00
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Pandemônio
Um vulcão de egos explode bem no seio da cidade
e o marasmo descansa dentro de cada um
reféns da sorte e do bem estar comum
passando fome e fazendo jejum
enquanto acendem mais um depois do almoço rumando pro fundo do poço
reclamando de um passado nenhum pouco generoso
de saco cheio, feito um crocodilo em repouso
eu vejo vespas levantando vôo, mais agudas do que esse som que eu ouço
um enxame voraz, com lanças incandescentes camufladas na noite
com um gatilho tremulo e sempre impiedoso
Um brinde pra quem não dorme
cuidado com o veneno que a sua veia entope
antrax no envelope
cidade sem stop
vida bandida agora é pop
não sabe, é porque não sofre
Marginal Gris aqui, sem contar com a sorte
tomara que exploda logo esse seu resort
pra ver quantos de vocês aqui vão sobrar
porque eu balanço, pra lá e pra cá
Mas você não consegue me imitar
sabe por que? porque eu venho do gueto
e de lá você não passou nem perto
então fique esperto porque a ginga vai rachando o seu concreto
eu, eu vou esperar dar meia noite pra colar lá na pista
Ficar de canto, ouvir um som
ver os moleques arregaçando a transição
mandando os flip from
from gueto!!!
Sem tempo pra desperdiçar
fique ligeiro porque os ninja sem bandeira vão colar
pronto pra cortar sua jugular
enfatizar a guerra que você insiste em desbaratinar
na metrópole que mais se parece a Silent Hill
a minha quadrilha se guia usando somente o barulho do inconfundível, assobio.
Um brinde pra quem não dorme
um brinde pra quem não dorme
aqui no hemisfério sul abaixo da nota de corte
"com medo que esse tipo de poesia saltasse fora dos livros e deixasse a realidade em completa desordem...
...a minha poesia têm dinamite, abre caminho sozinha...
...nós somos pela desordem, sem isso não há futuro...
...sempre do lado dos vencidos, dos oprimidos, nada essa de ficar do lado do vencedor..."
Treme o chão e eu nem me dou conta
falta água no rio, mas quando tinha, pobre morria de anta (anta vírus)
de que adianta? criança que anda e anda e no baile da escola, por falta de roupa, não dança
ja perdeu a esperança, ajeita sua trança e com sangue nos olhos pelas marginais, vai roubar sua herança
(e pode pá) não somos iguais, é o que o tempo mostrou e o status quo quase me matou
mas minha raiva ele não suportou, eu sei onde eu tô, mas não sei pra onde vou, eu não sou quem eu sou
Ao contrário da morte que te subornou, eu deveria gritar HOU?
eu me pergunto, pra onde os anões foram depois que o circo acabou?
foda-se a colombina e o pierrot
o ritmo já desacelerou
saída pela tangente que é pra ninguém lembrar da minha cara
ao som do nada ,meu monólogo não para, estrala
Direto pro inferno sem fazer escala
e a boca se cala porque agora é o silêncio quem fala.
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